quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Prossegue o duelo verbal: Juliana Cardoso x Fernando Holiday

O retorno ao plenário nesta terça-feira, após toda a confusão da última sexta-feira envolvendo a vereadora Juliana Cardoso (PT) e o novato Fernando Holiday (DEM), reacendeu a polêmica. A petista levou sua claque às galerias para aplaudir o discurso que fez no plenário, colocando-se como vítima de "ações fascistas e machistas", além de vaiar muuuuuuito o líder do MBL. A resposta foi no mesmo tom.

Abaixo você vê a íntegra dos discursos (tirados da taquigrafia oficial da Câmara):

JULIANA CARDOSO (PT)
– Nesta legislatura na Câmara Municipal de São Paulo, estou em meu terceiro mandato como Vereadora. Por mais de oito anos exerço o direito de representar o povo nesta Casa, direito que consegui, assim como os demais parlamentares, pelo voto popular.

É notório que sou uma representante das pautas de esquerda, com forte vínculo com os movimentos sociais populares, com a Central Única dos Trabalhadores, Central de Movimentos Populares, Marcha Mundial das Mulheres, Levante Popular da Juventude, União dos Movimentos de Moradia, Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, Movimento Sem Terra, Movimento da Igualdade Racial, LGBT e tantos outros movimentos que já pude trazer durante esse período do terceiro mandato que exerço.

Na última sexta-feira, após uma tentativa de intimidar e constranger o Senador Lindbergh Farias, que participava, nesta Casa, de uma atividade do mandato com os movimentos sociais, dois comandados do Vereador Fernando Silva Bispo, mais conhecido como Fernando Holiday, do Partido Democratas, que são militantes do Movimento Brasil Livre, Arthur Moledo do Val, conhecido nas redes sociais como Mamãe, Falei, e Wesley Vieira, este último também assessor oficial do Vereador, invadiram duas vezes uma reunião na liderança do PT, no 6º andar, para fazer provocações e filmar com câmeras de celulares uma atividade de trabalho fechada que somente dizia respeito ao meu mandato e às pessoas que ali estavam na reunião. Em seguida, o grupo lançou em suas redes sociais o material montado, fora do contexto, promovendo uma campanha que distorce os fatos ocorridos na última sexta-feira, com calúnias e desrespeito que armou contra mim.

Sem dúvida, a intenção foi desqualificar a denúncia que fiz no plenário após a invasão; porém o texto do relatório que está na Guarda Civil Metropolitana, que está aqui consignado, comprova que foi uma ação premeditada: o mandato do Vereador acionou a Guarda Civil Metropolitana para se dirigir ao 6º andar sob o argumento de que ali ocorreria uma entrevista e que precisariam de ajuda.

Esse é um episódio da maior gravidade, Sras. e Srs. Vereadores, que não atinge somente a mim; sem dúvida, é uma clara ameaça à democracia e ao exercício do mandato parlamentar, pois afeta o direito de todos nós, parlamentares desta Casa, de nos reunirmos nos espaços destinados aos partidos para trabalhar – direito assegurado na Constituição Federal. Tal ação é um desrespeito a todos os Vereadores e Vereadoras, e, sobretudo, uma grande ofensa ao decoro da Câmara Municipal da maior cidade brasileira.

Não é a primeira vez que algo desse tipo ocorreu nesta Casa. O mesmo grupo que na sexta-feira invadiu nossa reunião já havia feito isso: em agosto de 2016, atacou uma atividade do então Vereador Jamil Murad, do PC do B, inclusive com a participação do Sr. Fernando Holiday – que não era vereador desta Casa ainda –, como os senhores podem ver no boletim de ocorrência exibido no telão, feito quando a Guarda Civil Metropolitana desta Casa conduziu os antidemocráticos à delegacia. Nesse mesmo mês, os mesmos senhores tentaram invadir novamente o gabinete do Vereador Jamil Murad.

O MBL, em seu estatuto, defende que nenhum indivíduo ou grupo inicie o uso de força ou fraude contra os outros, mas é o primeiro a usar de intolerância para invadir reuniões fechadas, fazer provocações e, em seguida, fraudar a verdade e distorcer os fatos, conforme lhe é conveniente, para ganhar notoriedade.

Mas nós, mulheres, sabemos melhor do que ninguém como é recorrente a tentativa de nos desqualificar como descontroladas quando decidimos responder, falar, olho no olho, de igual para igual, cara a cara, sem medo, sem artimanhas e sem armadilhas. Do mesmo modo, foi alvo a Presidente Dilma durante a campanha do impeachment; do mesmo modo são alvos militantes do Partido dos Trabalhadores, principalmente Vereadores do PT nesta Casa, como aconteceu com o Vereador Reis e o Vereador Alessandro Guedes; bem como as demais organizações que lutam para barrar o golpe, em curso, que entrega o patrimônio nacional, destrói a educação e a saúde públicas e ainda pretender acabar com a aposentadoria e rasgar os direitos trabalhistas.

A palavra “democracia” é algo que não existe para esse movimento. Está muito claro que o MBL é um grupo paramilitar, antidemocrático, violento e desrespeitoso até mesmo com as instituições. Também, em 2016, tentaram desocupar à força escolas estaduais do Paraná, provocando um clima de terror e violência contra os jovens estudantes. Há registros na internet.

Esse tipo de ação, feita na Câmara Municipal na sexta-feira, é continuada nas redes sociais. A prática do mandato do nobre Vereador Fernando Holiday, com o MBL, é promover o ódio com insultos, ofensas, agressões, perseguições e ameaças; conforme a gente vê ali no Facebook, eles estão entrando na minha página, fazendo xingamentos absurdos.

Portanto não se trata de um ato isolado somente contra meu mandato, tampouco contra o Partido dos Trabalhadores, mas de uma agressão que atinge todos os Vereadores e Vereadoras e o próprio parlamento. Não podemos mais fazer reuniões de assessoria tranquilamente? Vamos permitir que se use o serviço público da Casa, junto com a GCM, com objetivos políticos, para desqualificar não só os parlamentares como também a Casa?

O fascismo praticado pelo MBL está claro. Junto com o fascismo, o MBL apresenta uma receita perigosa que mistura misoginia, machismo, violência, preconceito e desrespeito. Os resultados desta receita podem ter um gosto muito amargo para todos nós, parlamentares desta Casa, de outras casas e para a democracia.

Mas nenhuma receita perigosa, Vereador Fernando Holiday, me intimida. Continuarei defendendo e atuando em favor das pautas de esquerda, dos movimentos populares, das mulheres, da juventude, dos negros e da população LGBT.

Vereador Fernando Holiday, se V.Exa. representa mesmo esta Casa e o Movimento Brasil Livre, um movimento neoliberal que apresenta a direita mais retrógrada e conservadora da existência deste país, eu represento os movimentos populares de esquerda, da democracia, da luta, do respeito por esta Casa, pela instituição e, sobretudo, pelo povo.

- Manifestação na galeria.

É preciso dar um basta em ações fascistas e machistas.

Muito obrigada, nobres Vereadoras e Vereadores, à Casa e aos muitos Srs. Vereadores que me ajudaram a dialogar, inclusive Vereadores de outros partidos, em especial aos nobres Vereadores Dalton Silvano, Eduardo Tuma, Ricardo Teixeira, dentre outros que não consigo nominar. Muito obrigada pela solidariedade.


FERNANDO HOLIDAY (DEM) – Boa tarde a todos que se encontram na galeria deste plenário. Apenas para utilizar este tempo, gostaria de dizer à Vereadora que me antecedeu que os fatos aqui relatados, na verdade, são mais do que equívocos, muitas vezes são até mesmo calúnia.

Na última sexta-feira, todos que acompanhavam a sessão, e puderam ver posteriormente na internet, viram muito bem pelas imagens e pelos vídeos, quem foi atacado e quem atacou. Viram muito bem pelos vídeos quem fez um festival de desequilíbrio e quem feriu o decoro parlamentar!

Não cabe aqui, a mim, nesse momento travar uma guerra desnecessária com essa ou com aquela militância, muito pelo contrário. Não estou aqui para isso. Estou aqui para fazer um trabalho sério como Vereador da cidade de São Paulo. Respeitando todos aqueles que me colocaram aqui, que me concederam esse mandato.

Estou aqui para representar a indignação de milhões de brasileiros que foram às ruas juntamente com o Movimento Brasil Livre. O Partido, que tenta me caluniar e tenta jogar para mim acusações de toda sorte, a população brasileira já conhece, e os adjetivos não preciso dizer.

É com muita classe e com muita educação que comunico a todos aqueles que são pagos com pães de mortadela que, neste dia, as senhoras e os senhores não me tirarão do sério. Que neste dia, as senhoras e os senhores não irão conseguir me calar. Não importa quantos militantes apareçam, não importa quantos vereadores se pronunciem, o meu único compromisso é com aqueles que me colocaram aqui. O meu único compromisso são com os cidadãos de bem da cidade de São Paulo.

Podem gritar, senhoras e senhores! Podem esbravejar! O seu tempo acabou! Não mais dominam este País e nem dominam as nossas instituições. Não estão mais nas nossas empresas públicas. Seus cargos foram perdidos. A verba pública e o dinheiro desviado que sustentavam uma militância incapaz também já chegaram ao fim.

Gritem! Esbravejem! Mas saibam que a partir de hoje, nesta Câmara Municipal de São Paulo, vocês terão um opositor à altura e que não irá se curva diante deste ou daquele partido.

Muito obrigado Sr. Presidente!